Mídia e saúde

a cobertura da epidemia de sarampo de 2019 no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2211

Palavras-chave:

Meios de Comunicação, Atenção Primária à Saúde, Sarampo, Vacinação.

Resumo

Introdução: A mídia é um importante elemento na construção de significados sobre os acontecimentos de saúde, influenciando nas crenças e na formação da opinião popular, tendo especial papel nos processos epidêmicos. No atual cenário epidemiológico do Brasil, que está vivenciando o recrudescimento do sarampo, reintroduzido no país em 2018, os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) devem estar instrumentalizados sobre os sentidos que estão sendo construídos pelos veículos de comunicação. Objetivo: Avaliar o conteúdo midiático que está sendo produzido acerca do atual cenário epidemiológico do sarampo no Brasil, observando que sentidos estão sendo construídos e analisando-os criticamente, traçando um paralelo com o papel que a APS ocupa neste cenário, principalmente no que diz respeito à educação em saúde. Métodos: Trata-se de pesquisa qualitativa, exploratória, na qual realizou-se duas buscas através da ferramenta de busca online Google Notícias. Buscou-se pelo termo ‘sarampo’ e pelos termos ‘sarampo’ e ‘autismo’. Foram catalogados os 50 primeiros resultados, sendo o critério de inclusão que fossem notícias. Utilizou-se a análise de conteúdo, inicialmente, para categorização e inferência, porém foi necessário utilizar instrumentos da análise de discurso para aprofundar algumas subjetividades encontradas. Resultados: A busca retornou resultados das cinco regiões do país, todos com postura pró-vacina. A APS foi citada em praticamente todos os resultados encontrados, que frisavam a disponibilidade da vacina gratuitamente neste nível de atenção. As três áreas temáticas encontradas a partir da análise do material foram: “gravidade, sequelas e morte: a produção do sentido do medo”; “vacinação, medidas e ações; e “justificativas para a queda da cobertura vacinal, responsabilização do indivíduo e atribuição do cenário ao movimento antivacina”. Conclusão: Conclui-se que o atual cenário epidemiológico do sarampo tem sido encarado como unicausal, o que precisa ser revisto para que as campanhas governamentais e as ações das Equipes de Saúde da Família tornem-se mais efetivas. A estratégia do convencimento pelo medo ou pela obediência mostra-se ineficaz. Pouco ou nada se discute sobre as recentes políticas de desmonte do Sistema Único de Saúde, que têm impacto direto na cobertura da Estratégia de Saúde da Família. Também pouco foi discutido sobre questões de acesso. A compreensão deste cenário sob uma ótica multifacetada e contextualizada ao momento sociocultural e histórico é o ponto central para o sucesso do desfecho.

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Biografia do Autor

Camila Carvalho de Souza Amorim Matos, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Médica de Família e Comunidade. Professora Efetiva do Departamento de Ciências da Saúde da UFSC Campus Araranguá.

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Publicado

2020-05-10

Como Citar

1.
Matos CC de SA. Mídia e saúde: a cobertura da epidemia de sarampo de 2019 no Brasil. Rev Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 10º de maio de 2020 [citado 18º de abril de 2024];15(42):2211. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/2211

Edição

Seção

Artigos de Pesquisa

Plaudit